Os drenos cirúrgicos são dispositivos cuja finalidade é retirar a presença de ar ou secreções de espaços cavitários, sejam eles anatômicos (tórax e abdômen, por exemplo) ou leito de feridas. Eles permitem a saída de sangue e líquidos serosos decorrentes de procedimentos cirúrgicos, entre outros tipos de efluentes (secreções do trato digestivo, exsudato purulento). (1)
A importância da utilização dos drenos cirúrgicos se dá por eles retirarem o acúmulo de líquidos do sítio cirúrgico que poderia servir como meio de cultura para micro-organismos, reduzindo, assim, a possibilidade de formação de um potencial foco infeccioso. Além disso, o acúmulo de líquido pode acarretar aumento de pressão local, comprometendo o fluxo sanguíneo e linfático; comprimindo áreas adjacentes e causar irritação e necrose tecidual (no caso de efluentes como bile, pus, suco pancreático e urina). (2,3)
Os drenos cirúrgicos podem ser classificados segundo sua estrutura básica (laminares, tubulares); sua composição, como borracha (látex), polietileno ou silicone, de acordo com seus diferentes mecanismos de drenagem, sendo elas passiva (capilaridade – drenos laminares), (gravidade – drenos tubulares); e ativa: sucção ou vácuo (drenos tubulares); além das suas maneiras de uso. (1-3)
Os tipos de drenos cirúrgicos mais utilizados são: (1,3)
- Drenos de Penrose: é um sistema de drenagem aberto, com composição à base de borracha tipo látex, utilizado em procedimentos cirúrgicos com potencial para o acúmulo de líquidos, infectados ou não;
- Drenos de Sucção (HEMOVAC®/PORTOVAC®/JACKSON-PRATT/BLAKE): sistema fechado de drenagem por sucção contínua e suave, fabricado em polietileno ou silicone. É composto de um reservatório com mecanismo de abertura para remoção do ar e do conteúdo drenado, um tubo longo com múltiplos orifícios na extremidade distal que fica inserida na cavidade cirúrgica. A remoção do ar do interior do reservatório cria uma condição de vácuo, promovendo uma aspiração ativa do acúmulo de secreções;
- Dreno de tórax (selo d’água): os sistemas coletores de drenagem pleural ou mediastinal são empregados em cirurgias torácicas ou cardíacas, destinando-se à retirada de conteúdo líquido e/ou gasoso da cavidade torácica. São constituídos de um dreno tubular em polietileno, geralmente com mais de um orifício na extremidade distal que fica inserida na cavidade, um tubo extensor que conecta o dreno ao frasco coletor e o frasco em polietileno rígido com um suporte na sua base;
- Dreno de Kerr: introduzido na região das vias biliares extra-hepáticas, utilizados para drenagem externa, descompressão ou, ainda, após anastomose biliar como prótese modeladora, devendo ser fixado através de pontos na parede duodenal lateral ao dreno, tanto quanto na pele, impedindo sua remoção espontânea ou acidental.
Outros tipos de drenos/cateteres: cateter de malecot e cateter de pezzer (gastrostomias),
dreno de pigtail (nefrostomias e drenagens em geral),
cateter duplo J, dreno de Abramsom, cateter de nelaton etc. Em linhas gerais, a diferença conceitual entre cateter e drenos é que o primeiro, permite a administração e retirada de líquidos, diferentemente dos drenos que são utilizados apenas para remoção dos líquidos/ar.
As principais complicações relacionadas a drenos cirúrgicos: infecção, obstrução hemotórax residual, pneumotórax residual, pneumonia, redrenagem. (1,4)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) definiu algumas recomendações para o manejo seguro dos drenos cirúrgicos desde sua inserção no ato cirúrgico até os cuidados pós-operatórios com os dispositivos, dentre eles, o curativo.
A inserção dos drenos cirúrgicos geralmente deve ocorrer no momento da cirurgia, preferencialmente em uma incisão separada, diferente da incisão cirúrgica. A recomendação é fazer uso de sistemas de drenagens fechados e remover o mais breve possível. Para o preparo intraoperatório da pele, deve-se realizar a degermação do local antes da aplicação do antisséptico alcoólico (PVPI ou clorexidina); a antissepsia é feita no sentido centrífugo circular (do centro para a periferia) de maneira ampla. (1)
O curativo a ser realizado irá depender se a drenagem é de sistema aberto (que permite o contato com o meio externo) ou fechado.
Sistema de drenagem aberto: De maneira asséptica, com gaze umedecida com soro fisiológico, limpar o óstio de inserção e depois o dreno; limpar as regiões laterais da incisão do dreno, secar a incisão e as laterais com gaze estéril. Ocluir o dreno mantendo uma camada de gaze entre o dreno e a pele ou quando ocorrer hipersecreção colocar bolsa simples para colostomia. (1)
Pontos importantes:
- Sistemas de drenagem aberta (por exemplo, no tipo Penrose ou tubular) devem ser mantidos ocluídos com bolsa estéril ou com gaze estéril por 72 horas. Após esse período, a manutenção da bolsa estéril fica a critério médico. (1)
- Alfinetes de segurança não são recomendados como meio de evitar mobilização dos drenos Penrose por não serem considerados produto para a saúde (PPS), enferrujarem facilmente e propiciarem colonização do local. (1)
- Os drenos de sistema aberto devem ser protegidos durante o banho. (1)
Sistema de drenagem fechado: De maneira asséptica, com gaze umedecida com soro fisiológico, limpar o local de inserção do dreno ou cateter, utilizando as duas faces da gaze; com gaze estéril, secar o local de inserção do dreno ou cateter; aplicar álcool a 70%. Ocluir o local de inserção com gaze estéril. (1)
Pontos importantes:
- Antes de iniciar o curativo, inspecionar o local de inserção do dreno por meio de palpação. (1)
- Realizar troca de curativo a cada 24 horas ou sempre que o mesmo se tornar úmido, solto ou sujo. (1)
Um estudo de validação (5) realizado no Brasil com enfermeiros especialistas objetivou validar as intervenções de enfermagem com os drenos cirúrgicos de tórax e obteve como resultado as principais intervenções tidas como importantes e objetivas:
- Manter o frasco de drenagem com selo d’água abaixo do nível do tórax;
- Clampear os drenos sempre que o frasco de drenagem estiver posicionado acima do nível do tórax por longos períodos, assegurando que o clampe fique no local pelo menor tempo possível;
- Certificar-se de que o dispositivo de drenagem torácica fique mantido em posição vertical;
- Manter a higiene adequada das mãos antes, durante e após inserção ou manipulação do dreno torácico;
- Trocar o curativo em torno do dreno torácico a cada 24 horas e conforme necessário;
- Monitorar quanto aos sinais e sintomas do pneumotórax.
Outros cuidados fundamentais na assistência ao paciente com drenos cirúrgicos são a avaliação do volume do efluente (que varia conforme o tipo de cirurgia e tempo de pós-operatório, indica presença sangramento ativo, obstrução e outras condições); do aspecto do efluente (se é hemático, seroso, purulento, fecaloide, biloso, serohemático, piohemático, etc.), da pele circundante (aspecto da pele, presença de sinais de flogose (hipermia, calor, dor, edema), presença de lesões por dispositivos médicos ou adesivos).
O uso de drenos, sondas e cateteres predispõe risco para quedas em pacientes cirúrgicos, principalmente na população idosa, em especial quando utilizam-se bolsas e frascos coletores graças à restrição de movimentos associados à insegurança, medo de sentir dor, de deslocar o dreno ou, ainda, o desconforto causado ao paciente na sua mobilização. (6)
A respeito da retirada e tracionamento de dreno, ordenha e troca de selo d’água, diversos pareceres tanto do Conselho Federal de Enfermagem (7) quanto dos Conselhos Regionais de Enfermagem de diversos estados (8-14) atribuem legalidade de tais procedimentos, enfatizando a necessidade prévia de prescrição médica, bem como o enfermeiro possuir habilidade
técnico científica para execução dessas intervenções.
Diante disso, a equipe de enfermagem tem papel fundamental no cuidado seguro ao paciente que utiliza drenos cirúrgicos pelo fato ter como atribuição a manipulação direta e avaliação desse dispositivo, sendo imprescindível o conhecimento legal, técnico e clínico, baseado em evidências para uma a assistência de qualidade e com menor risco de complicações possíveis.
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